O legado de uma líder: conheça a trajetória de Chieko Aoki, dama da hotelaria brasileira

Com mais de quatro décadas de carreira, a fundadora da Blue Tree Hotels tornou-se referência internacional, revolucionando o mercado hoteleiro e inspirando mulheres no mundo dos negócios

Aos 76 anos, Chieko Aoki é um dos nomes mais influentes no Brasil, conhecida como a dama da hotelaria local. Fundadora e presidente da Blue Tree Hotels, a nipo-brasileira transformou sua paixão pela hospitalidade em um império ao longo de 45 anos de carreira. Hoje, opera 21 hotéis em todo o país, cultivando o equilíbrio entre o rigor japonês e a espontaneidade verde-amarela. A marca registrada de sua gestão: compromisso, respeito e valorização das pessoas. 

Em 2024, Chieko foi eleita Personalidade do Turismo pelo Global Council of Sales Marketing, entidade que visa fomentar e disseminar as melhores práticas empresariais, e tornou-se a primeira profissional do ramo hoteleiro a receber a Medalha do Mérito Turístico, concedida pelo Governo de São Paulo por suas contribuições e pela dedicação ao desenvolvimento do turismo paulista. Ela também recebeu o Prêmio CMEC Inspiração, promovido pelo Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), que destaca jornadas de impacto e liderança.

Mesmo com todo o sucesso, este ano, a empresária planeja se superar. “Quero repetir, (ter um desempenho) igual ou melhor que o ano passado, que foi excelente. Eu, como líder, sempre foco nos melhores resultados da empresa, tenho que fazer o máximo que eu posso. E é sempre achar, e eu sempre acho mesmo, que posso fazer um pouco mais”, garante.

Formação

Nascida na cidade de Fukuoka, no Japão, Chieko veio para o Brasil aos 6 anos com os pais, Kaoro Nishimura, profissional da área de eletricidade, e Takako Nishimura, dona de casa. A família foi para Bastos, no interior de São Paulo, onde uma parente era dona de propriedades rurais. “Minha mãe tinha uma tia no Brasil que era latifundiária e possuía fazendas. Ela tinha vindo há muitos anos e feito muito sucesso. Como ela era viúva e possuía muitas terras no Brasil, imagino que tenham pensado que a vida aqui era muito fácil, e decidiram vir para cá.”

Chieko e a mãe, Takako Nishimura, que completa 98 anos em março
Chieko e a mãe, Takako Nishimura, que completa 98 anos em março(foto: Arquivo pessoal)

Após dois anos em Bastos, a família mudou-se para a capital paulista. Chieko frequentou escolas públicas e afirma que sempre foi bem acolhida nos espaços educacionais. Engajada, ela aprendeu português rapidamente, ajudando seus pais quando precisavam. “Eles não sabiam nada do idioma, então eu ajudava com algumas palavras, quando perguntavam, e eles tinham amigos que ensinavam como fazer as coisas”, lembra.

Desde cedo, a empresária se interessava por buscar conhecimento, sonhando, inicialmente, em ser professora de filosofia. Apesar de não ter seguido a área, até hoje ela usa os ensinamentos filosóficos para dirigir sua empresa. “Todo negócio tem um pouco de filosofia. Você precisa ter cultura, saber o que quer, quem você é, o que pode fazer. Não se pode ficar no meio do caminho. É preciso clareza. E estruturar a empresa para esse resultado”, pontua.  

Explorando outros caminhos, ela se graduou em direito na Universidade de São Paulo (USP), conquistando, posteriormente, a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas optou por não exercer a profissão. Ainda na década de 1970, ampliou sua formação com cursos de gestão, cultura e arte japonesa na Universidade Sofia, em Tóquio, o que lhe proporcionou uma visão global e interdisciplinar do mundo dos negócios.

Formatura em direito na Universidade de São Paulo
A primeira graduação da empresária foi em direito na Universidade de São Paulo em 1973(foto: Arquivo pessoal )

Experiência

A trajetória de Chieko no setor hoteleiro teve início após casar-se com o empresário japonês John Aoki, que a apresentou ao segmento. Mais tarde, ela se aprofundou em administração hoteleira na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, com a intenção inicial de contribuir com os negócios do então marido.

Sua primeira oportunidade profissional na hotelaria foi como diretora de marketing da rede Caesar Park, onde seu talento foi evidenciado, chegando à presidência da empresa. Sob sua liderança, a presença da rede se expandiu no cenário internacional, com novos empreendimentos no Brasil, Estados Unidos, Portugal e Taiwan.

O reconhecimento de sua competência a levou a um novo desafio: assumir como vice chairwoman da Westin Hotels & Resorts, uma das redes hoteleiras mais renomadas do mundo, com sede em Seattle, nos EUA. Como líder, ela esteve à frente da gestão de mais de 70 hotéis em diversos países. Nesse período, a Westin se uniu à Caesar Park, compondo um grupo com mais de 90 empreendimentos, “de hotéis boutique e de luxo a mega hotéis voltados para eventos.”

Em 1997, diante da venda das redes Westin e Caesar Park e do agravamento do estado de saúde de seu marido, Chieko decidiu lançar sua própria marca no mercado: a Blue Tree Hotels & Resorts, a qual preside até hoje, com uma gestão pautada na qualidade, no atendimento diferenciado e na busca por inovação.

Multiculturalismo

Atenta às necessidades do mercado, Chieko encontrou formas criativas de se desenvolver profissionalmente. Para perder o medo de falar em público, por exemplo, passou a frequentar casas de karaokê, onde perdeu a timidez e aprendeu a se expressar com mais naturalidade. O gosto por receber pessoas, por outro lado, é algo que sempre a acompanhou. 

“É muito natural para mim, por isso a hospitalidade se encaixou tão bem. Também me preocupo muito com todos, de forma geral. Assim, acabei me esforçando e me aperfeiçoando naquilo que estava alinhado com minhas crenças. Por isso deu certo”, afirma.

A empresária destaca como sua experiência entre diferentes culturas influenciou sua perspectiva sobre negócios. “O brasileiro é muito aberto e fala mais, enquanto o japonês é muito mais fechado e tende a falar menos. O brasileiro é muito mais acolhedor, mesmo com pessoas que não conhece. Já o japonês é extremamente gentil, pois foi educado para ser assim. Para ele, gentileza é uma forma de respeito ao próximo, de manter a harmonia nas relações”, detalha, afirmando que absorveu o melhor dos dois mundos. 

A Blue Tree foi fundada em 1997, em homenagem ao sobrenome Aoki (árvore azul em japonês)
Em 1997, foi fundada a Blue Tree, cujo nome é uma homenagem ao sobrenome Aoki (“árvore azul” em japonês)(foto: Arquivo pessoal )

Receita do sucesso

Ao longo da carreira, duas crenças guiaram Chieko. A primeira é o ensinamento de Madre Teresa de Calcutá: “Nunca deixe que alguém venha até você sem que, ao sair, se sinta melhor e mais feliz”. A segunda, trata-se “do princípio mais básico da natureza humana, presente em todas as pessoas, que é a necessidade de se sentir importante, apreciado, valorizado e reconhecido”. “Essas foram minhas orientações de vida”, conta.

Para a CEO, a chave para o sucesso está em fazer o que se gosta e buscar sempre melhorar: “Se você não gosta do que faz, não faz bem-feito. E quando você se dedica e faz bem, gosta cada vez mais”. Ela também enfatiza a importância de uma mentalidade prática, corajosa e resiliente. “Eu não tenho medo das coisas. Foco em fazer certo e dar certo. Se algo não sai como esperado, viro a página e sigo em frente. Não lamento o que já passou.”  

Nesse sentido, ela compartilha que a liderança, para ela, é a responsabilidade de atingir metas e resultados, e que a inovação é essencial para o progresso. “Tenho muitos fornecedores, parceiros e colaboradores. Meu compromisso é manter empregos, melhorar salários e oferecer oportunidades de crescimento, além do compromisso com os clientes. Como líder, sempre posso fazer mais. Tem tanta gente melhor do que a gente, fazendo e criando coisas diferentes. E eu adoro coisas novas.”  

Mesmo sendo reconhecida como “a dama da hotelaria brasileira”, ela afirma que nunca buscou esse título. “Eu nunca me considerei a dama da hotelaria, foi algo que as pessoas começaram a dizer. Meu projeto, na verdade, era administrar hotéis com bons resultados e garantir que tivessem uma base sólida, ou seja, um hotel que se destacasse no mercado. Esse era o meu foco.” 

Equidade

Além do setor hoteleiro, Chieko participa ativamente de diversas organizações e conselhos. É vice-presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau e do Grupo Mulheres do Brasil — presidido pela também empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza —, além de integrar importantes conselhos, como o do Hospital Santa Cruz, da Academia Brasileira de Eventos, da Academia Brasileira de Marketing e da Japan House São Paulo.

Chieko recebeu o Prêmio CMEC Inspiração Empreendedora 2024, entregue por Luiza Trajano durante o 5º Encontro Liberdade para Empreender, em São Paulo
Chieko recebeu o Prêmio CMEC Inspiração Empreendedora 2024, entregue por Luiza Trajano durante o 5º Encontro Liberdade para Empreender, em São Paulo(foto: Arquivo pessoal )

Defensora da equidade de gênero, Chieko acredita que as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. “No passado, as mulheres caminhavam por uma estrada estreita. Hoje, estão em uma grande via asfaltada e bem cuidada. E cada vez mais preparadas.”  

Ela faz um apelo para que as mulheres se fortaleçam mutuamente. “Temos a responsabilidade de abrir caminhos e sermos exemplos. Mais mulheres no mercado significa mais crescimento econômico, melhores salários e mais oportunidades. É um ciclo virtuoso.”  

Para ela, a persistência e a autoconfiança são essenciais para o sucesso feminino. “As dificuldades fazem parte da vida. Superar também faz. Deus não coloca fardos maiores do que podemos carregar. Então, não podemos desistir. Todas as mulheres que conheço e que tiveram sucesso têm algo em comum: a certeza de que podem e querem. Tem que querer ser líder. Tem que querer ajudar as pessoas. O querer faz avançar.”  

Humanidade

Por fim, Chieko destaca a importância da humanização tanto nas relações interpessoais quanto na liderança. “O mundo precisa ser mais humanizado. Por que tantas guerras? Por que tanta raiva? Porque cada um pensa apenas em si. Precisamos lembrar que o outro é tão humano quanto nós”, defende.

Ela reforça que um bom relacionamento é a base para qualquer sociedade próspera. “A forma como nos relacionamos define tudo. Seja entre homens e mulheres, dentro de uma empresa ou em uma comunidade. O respeito e a consideração são fundamentais.” 

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Divulgação

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