Diana Mondino se reúne com Mauro Vieira nesta segunda-feira (15/4), na primeira bilateral com o governo brasileiro. Apesar do mal-estar criado pelo encontro entre Milei e Musk, Brasil e Argentina pretendem avançar nos temas em comum
A chanceler da Argentina, Diana Mondino, se encontrará nesta segunda-feira (15/4) com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em Brasília, depois segue para São Paulo, onde manterá conversas com o setor privado. Durante a estada, a economista que comanda a diplomacia do país vizinho deve contornar os ataques do chefe, Javier Milei, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e focar nas pautas econômicas de interesse dos dois países.
Apesar de alguns diplomatas brasileiros terem considerado graves as falas do argentino ao empresário sul-africano Elon Musk, quando, durante visita à fábrica da Tesla, nos Estados Unidos, Milei disse que poderia receber “de braços abertos, na Argentina”, os escritórios e os funcionários de Musk no Brasil, a determinação da diplomacia dos dois países é ignorar solenemente as falas do presidente portenho e manter as negociações normalmente.
O objetivo é não apagar o brilho da agenda bilateral de alto nível com um integrante do primeiro escalão do novo governo argentino. Considerada calma e mais pragmática que o chefe, Mondino já esteve no país, antes mesmo de ser empossada, quando, em uma visita relâmpago ao chanceler brasileiro, em novembro, entregou uma carta de Milei ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidando o petista para a posse em Buenos Aires. Depois, em fevereiro, ela e o ministro da Economia, Luis Caputo, participaram da reunião do G20, no Rio de Janeiro. Na ocasião, deram declarações pela ampliação dos laços entre os dois países.
“Temos de continuar trabalhando juntos, Brasil e Argentina têm trabalhado juntos, com altos e baixos, ao longo de décadas, e queremos que a relação seja a melhor possível”, comentou a chanceler, em entrevista à Folha de S.Paulo.
A visita desta semana serve para reforçar o interesse da chanceler em reconstruir os laços dos dois países e reduzir os ruídos causados pelas divergências entre os chefes de Estado. “A diplomacia se ocupa dos interesses dos Estados, não dos governos. Precisamos dar menos importância para essa tal diplomacia via Twitter”, disse um embaixador aposentado ouvido pelo Correio.
Do lado argentino, diplomatas apontam que as equipes dos dois países, em Buenos Aires e em Brasília, trabalharam em conjunto nas últimas semanas, tanto nas negociações sobre o G20 — grupo do qual fazem parte as duas nações e que o Brasil ocupa a presidência rotativa — quanto na declaração conjunta da visita bilateral.
Além da pauta relacionada ao Mercosul e à relação econômica bilateral, é esperado que, no primeiro dia da visita, quando ocorre o encontro governamental entre os dois chanceleres, discutam-se temas relacionados à agenda latino-americana, como a crise diplomática entre o Equador e o México e a situação das eleições na Venezuela. Assuntos que podem se tornar sensíveis, já que, assim como o México ofereceu asilo ao ex-vice-presidente equatoriano preso dentro da representação diplomática mexicana no Equador, a embaixada argentina em Caracas, na Venezuela, abriga opositores do regime de Nicolás Maduro.
Devem entrar na pauta das conversas, também, a cooperação na segurança pública, com os dois países negociando acordos futuros e objetivando o combate ao tráfico de drogas, um desafio das duas nações que enfrentam ondas de violência pela ação de organizações criminosas transnacionais. O tema foi tratado pelo diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Rodrigues, ao liderar uma delegação brasileira em visita a Buenos Aires no fim de março.
Mercado
Para os argentinos, o principal assunto de interesse nas conversas é ampliar o comércio bilateral entre os países e a agenda comercial do Mercosul. Isso sem incluir expectativas na concretização do acordo de livre-comércio com a União Europeia, já visto como descartado, especialmente em um ano de renovação do parlamento europeu e do interesse brasileiro em proteger sua indústria.
É fundamental para o país vizinho fazer os ajustes nas contas e ampliar a atividade econômica. Para isso, aposta na abertura da economia e na liberalização do câmbio, na expectativa de atrair mais investidores, razão pela qual a chanceler argentina passará dois dias em São Paulo discutindo com empresários.
A Argentina é o maior comprador de produtos industrializados brasileiros e, até o início da década, teve o Brasil como seu principal parceiro comercial, lugar que foi assumido pela China. Em 2023, o fluxo de comércio entre os dois países somou US$ 28,7 bilhões, um crescimento de 0,9% na comparação com 2022.
Fonte: Correio Braziliense
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