Como Matias, Pedro Caetano embarca em ônibus a mil por hora da novela das 19h

Após ingressar em “Elas por elas” como um alívio ao drama de uma das protagonistas, o ator e capoeirista Pedro Caetano entra em “Volta por cima” para formar par com a mocinha da trama e mostrar em uma novela outra vertente de sua arte

Em um intervalo de um ano, o ator Pedro Caetano recebeu dois convites da TV Globo para entrar no meio de uma novela, e com a importante função de confortar o coração machucado das protagonistas da trama. Após pegar o bonde de Elas por elas em pleno movimento para se envolver afetivamente com a mãe de família abandonada pelo marido Renée (Maria Clara Spinelli), agora, ele embarca na linha de ônibus da Viação Formosa que corre a mil por hora com a missão de acolher a mocinha Madá (Jessica Ellen) após uma desilusão amorosa, em Volta por cima.

“Acho interessante essa coincidência porque um coração machucado precisa de acolhimento, de atenção, de cuidado, sensibilidade, que são características historicamente negadas ao homem negro. Acho importante e transformador poder ser visto como um homem capaz de ocupar esse lugar, de ser cuidadoso, acolhedor e paciente”, afirma o ator de 41 anos ao Correio.

Sobre o desafio de encarar um personagem como o documentarista Matias, que agora entra em Volta por cima, e o delegado Rico, que ingressou no meio da trama em Elas por elas, o carioca explica que tem a tendência de ser um pouco mais cauteloso e “não entrar com o pé na porta”. “O elenco já está junto há mais tempo, mais entrosado e mais equalizado na temperatura da obra, então, trabalho as características mais genéricas do personagem e, depois, vou afinando à medida que vou tendo mais contato com a trama.”

A primeira informação que Pedro recebeu de Matias, por exemplo, foi a de que ele era um documentarista. O ator, então, tentou trazer para ele um interesse pelas pessoas, uma curiosidade pelas histórias e trajetórias. “Ele olha no olho, escuta ativamente, se sensibiliza”, relata. 

Menino do subúrbio

Carioca da Zona Norte do Rio de Janeiro, criado nos bairros do Engenho de Dentro e Méier, Pedro Caetano não poderia imaginar que suas raízes no subúrbio carioca e as lembranças da infância, marcada pelas festas de rua e os desfiles de bate-bolas, serviriam de referência para reviver essa mesma atmosfera na novela das 19h.

“O subúrbio é lugar de gente efusiva, batalhadora. Tenho essa lembrança muito marcada na memória. A vida no subúrbio acontece na rua, na praça, na cadeira de praia no portão de casa pra conversar e ver a vida passar. É um lugar onde o calor humano é contagiante. A novela me conecta de novo com essa lembrança, com essa sensação. Tento trazer um pouco dessa memória, da forma de abraçar, de cumprimentar, de falar, de conectar com a vida cotidiana para o trabalho”, comemora o ator.

Capoeirista, Pedro agora mostra em cena, pela primeira vez em novelas, suas habilidades nas rodas de jongo. “Como mestre de capoeira e homem de candomblé, sempre tento de alguma forma trazer para os meus personagens alguma característica de minhas raízes, seja com um fio de contas por baixo da roupa ou mesmo deixando aparecer minha tatuagem de um capoeirista nas costas. São culturas marginalizadas e estigmatizadas socialmente e que precisamos cada vez mais naturalizar essas presenças em produtos audiovisuais”, comenta o artista, que também é atleta. 

Cidadão do mundo

Pedro lidera o Arte Corre Crew, um grupo de artistas corredores que decidiu se reunir pra correr junto e colaborar na democratização da corrida. “É um esporte para todos os corpos, de fácil acesso, e que pode te acompanhar em qualquer lugar que você vá. É um clube agregador, um ponto de encontro e de suporte pra quem já corre ou pra quem quer começar”, explica ele, que teve a vida toda dedicada ao esporte e ao movimento. “Fui skatista por muitos anos, bodyboarder, capoeirista há 25 anos. A corrida entrou na minha vida em 2005, quando fui convidado por uma marca esportiva pra participar de uma prova. Apaixonei e nunca mais larguei.”

Por meio de uma dessas atividades esportivas — o skate —, Pedro foi descoberto, aos 15 anos, pelo fotógrafo Adelson Brasil. Dois anos depois, ele fez seu primeiro book e logo ingressou no mundo da moda. No início dos anos 2000, ele debutou como modelo internacional desfilando pelos principais circuitos de Nova York, Milão e Paris. “Um menino negro, que mal tinha saído de sua cidade, de repente se viu morando sozinho num país distante, que não falava a língua, trabalhando e se virando. Essa vivência me ajudou muito na percepção, adaptação e perspicácia. Foi uma boa preparação para a carreira de ator, que exige muita resiliência, capacidade de adaptação rápida, reação rápida, inteligência. Acho que a carreira de modelo me ensinou a tentar me manter o mais preparado possível para qualquer mudança”, conclui.

Tevê, cinema e streaming

Pedro Caetano também por ser visto em DNA do crime, série da Netflix, como um dos protagonistas. Ele conta que entrou no projeto faltando quatro dias pra começar a rodar. Não participou da preparação, pegou o texto em cima da hora e, por isso, a construção do personagem foi quase que imediata e automática. “Fui sentindo a temperatura da série ao longo das gravações. Mas, como estava com uma equipe maravilhosa de direção, preparação, um elenco super parceiro que me acolheu e me ajudou demais na compreensão do arco da trama, deu tudo certo! A série foi um sucesso e o Rossi é um personagem super querido do público. Até hoje as pessoas me chamam de delegado na rua!”, ele comentou, aos risos.

Para o ator, a experiência em trabalhar em diferentes plataformas, como tevê, cinema e streaming é um privilégio porque são veículos bem diferentes embora muito parecidos. “A televisão traz um dinamismo maior, uma urgência diferente. Os tempos são diferentes e a construção do personagem precisa ser mais maleável, já que não sabemos o que pode acontecer com ele ao longo da trama. Ter essa possibilidade de se experimentar em diferentes processos é o que mais amo fazer”, declarou.

Sobre seus planos para o futuro, em termos de projetos de atuação, Pedro Caetano adiante que pretende direcionar o foco para o cinema e para televisão, que são os produtos que menos experimentou. No teatro, pretende encenar um monólogo, mas demorou a priorizar essa vontade porque até então não se sentia “maduro o suficiente” como ator. “Acho que vai acontecer no tempo certo. Ao mesmo tempo, tenho um lado técnico muito latente que me faz conectar muito com a função de diretor. Acho que é um caminho que em breve vou traçar em paralelo”, concluiu.

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Nanda Seixas

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