80% dos brasileiros voltam aos cadastros de negativados após quitarem dívida

Economista afirma que a falta de educação financeira e aumento do IPCA influenciam a alta dos endividados

Um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) apontou que oito em cada dez brasileiros retornam ao cadastro de negativação, algo que ocorre em menos de um ano depois do pagamento da conta negociada.

César Bergo, economista e professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB), explica que o mau planejamento e a falta de educação financeira cumprem papeis fundamentais para que isso aconteça. “Muitas vezes, as pessoas ficam, de alguma forma, motivadas a fazerem uma renegociação de dívida, mas não se preocupam em fazer a sua planilha de despesas, de receita”, explicou.

Além disso, o especialista diz que a educação financeira ajuda as pessoas a terem noção da importância de fazer uma reserva, por exemplo. “Quando tiver uma emergência, utilizar um pouco dessa reserva, não pagar juros, sobretudo juros de cartão de crédito e juros de cheque especial, mas não é o que acontece”, aponta Bergo.

O levantamento da CNDL e do SPC também mostrou que, em agosto, 86,31% do total de negativações foram realizadas por devedores reincidentes (aqueles que já haviam sido registrados como inadimplentes nos últimos 12 meses). No grupo de reincidentes, 63% não haviam pagado dívidas antigas até o mês analisado e 22% tinham saído do cadastro de negativação nos 12 meses anteriores, mas acabaram voltando. Dos restantes, somente 13,69% não tinham nenhuma restrição no CPF nos últimos 12 meses.

“Então muitas pessoas aproveitam a onda, fazem renegociação e depois descobrem que não têm condições de honrar com os compromissos, sem falar ainda na questão do desemprego, que acaba acontecendo e a pessoa fica desnorteada, não tem orientação”, explicou o especialista.

Bergo também explica que a inflação influencia diretamente essas questões, fazendo com que os preços subam e as pessoas não tenham condições de manter o padrão de vida que estão acostumadas. Porém, ele afirma que a maior influência na questão da inadimplência é a taxa de juros elevada. “Uma vez que o Banco Central eleva a Taxa Selic (taxa básica de juros da economia), isso acaba encarecendo os empréstimos de financiamentos e as prestações passam a não caber mais nos orçamentos”, ressaltou.

O especialista completa afirmando que quanto maior a inflação, maior o poder do Banco Central para aumentar a Selic, o que acaba criando um “círculo vicioso, onde as pessoas acabam se endividando, tomando outro empréstimo para pagar um anterior, sempre uma taxa maior”.

Aumento do IPCA

Ao mesmo tempo, na última quarta-feira (8/10), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sinalizou que os preços subiram 0,44% em setembro, o que representa a maior variação desde 2021. O economista explica que um dos fatores ligados a este fato é a alta de 1,8% no grupo de Habitação, onde os preços da energia elétrica residencial aumentaram 5,36% em setembro.

Bergo afirma que a bandeira vermelha fez com que as contas de luz ficassem mais caras, principalmente após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocar aumentar a bandeira para o nível 2. “O nível 2 implica um aumento de 8% na conta de luz e as pessoas acabam tendo muita dificuldade de honrar esses compromissos, como a questão da água, da luz, que são dois insumos importantíssimos para a família”, enfatizou.

“Portanto, a energia elétrica, que foi a vilã da inflação no mês passado, provavelmente vai continuar sendo a vilã.”, alerta o economista.

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Fecomercio

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